Quando Tárcio chegou na casa de Paletó com uma sacola plástica contendo suas poucas roupas, o velho não disse nada. Não houve abraços, perguntas. Apenas que havia comida nas panelas, se estivesse com fome. Depois sumiu. Voltou horas depois carregando uma esteira feita de junco. Não havia camas no quarto em que morava. O pai era de pouca ou nenhuma conversa. Ouvia mais do que falava, mesmo quando seu amigo Zé das Botas chegava para lhe fazer uma visita e danava a contar os entreveros que tivera com quem havia lhe procurado para trocar um salto, colocar meia-sola em um sapato velho, colar uma tira de sandália. Paletó sorria. Passava a mão pelos longos cabelos grisalhos e, às vezes, brincava com a caixa de fósforo que carregava no bolso da camisa, mesmo depois de abandonar o vício do cigarro. Ao comentário de que deveria procurar uma companheira, retrucava que não daria uma madrasta para seus filhos, fingia uma solidão que não existia.
Paletó e Zé da Bota
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