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O vilão de ontem foi o herói de hoje

Foi difícil… não, foi terrível… não, foi um sofrimento interminável. Como era previsível passamos noventa minutos dando chutões para frente na esperança vã de encontrar os pés salvadores de Neymar ou a cabeça pouco inspirada de Fred. Me pareceu que o Chile estava jogando com seis jogadores a mais que a seleção brasileira.

Aquela partida em que Ronaldo Fenômeno entrou em campo após passar mal na noite anterior, me voltou à memória ao ver David Luiz dando chutões inúteis para frente, tentando se livrar da bola que voltava para nossa área nos pés dos atacantes chilenos quase que imediatamente. Voltamos a escalar um jogador sem condições físicas num jogo decisivo. O país assistiu incrédulo um jogador que sentia fortes dores nas costas ser escalado para ser o primeiro a bater o pênalti. Ainda bem que as dores nas costas não atrapalharam e ele marcou o primeiro gol do Brasil.

Foi uma partida ruim. O Chile foi um time perigoso. Dominou o jogo e por muito pouco, pouco, muito pouco mesmo não saiu do Mineirão consagrado no último minuto da prorrogação. Estava ali o prenúncio de que a sorte estava do nosso lado.

Quis o destino que o goleiro que foi nosso vilão na Copa passada fosse hoje o nosso herói. Foi sua redenção, até mesmo para aqueles que não esquecem as suas raízes rubro-negras. Estamos nas quartas de final com o mesmo time que arrebentou na Copa das Confederações, mas que nessa competição nos parece tímido, sem confiança, cansado, perdido.

A Colômbia se mostrou uma equipe com excelente toque de bola, que joga sempre para frente e, além de tudo, possui o artilheiro da competição até o momento. Será mais um jogo para quem tem nervos de aço. Torço para que o técnico da nossa seleção tenha visto o mesmo jogo que nós, com todas as deficiências apresentadas pelos nossos jogadores e que escale alguém que possa comandar o meio de campo de nossa seleção, para que deixemos de tentar fazer a ligação direta entre a defesa e o ataque.

Nós continuaremos a torcer. Não é a melhor seleção da nossa história, não tem o toque refinado com o qual nos acostumamos a atormentar nossos adversários, ainda não nos dá a certeza de que chegaremos a decisão, mas é a nossa seleção. Por essa camisa amarela, vestiremos as nossas armaduras e cerraremos fileiras, prontos para lutar ao lado dos nossos gladiadores. Entraremos em campo com nossos corações e nossas mentes visando um só objetivo. Chegar às semifinais da Copa do Mundo FIFA 2014. Deus queira que a sorte continue com a nossa seleção.

Não leve a vida tão a sério, afinal, você não vai sair vivo dela mesmo

Diariamente somos surpreendidos pela notícia de que alguém próximo morreu ou está com uma doença muito grave. Nesse momento é comum questionarmos a nossa existência e maldizermos a vida, imputando-lhe a crueldade de não sermos eternos.

Não sei se na hora em que eu soube que um dia iria morrer me ocorreu de praguejar ou reclamar com o Criador. Não lembro. Parece-me que eu sempre soube que participo, como todos os seres vivos, desse inexorável processo de nascer, crescer e morrer.

Apesar de sabermos que iremos morrer um dia, cedo ou tarde, carregamos a herança dos povos antigos que pranteiam a morte como se ela fosse algo que não deveria acontecer. Muito já se falou sobre a necessidade que o homem tem de sentir-se eterno. A tradição Cristã e outras religiões prometem uma vida eterna sem a chatice das contas a serem pagas todo fim de mês.

A verdade é que levamos a vida muito a sério, exigindo dela mais do que ela pode nos dar. Nunca estamos contentes com o que conquistamos e nos esquecemos das coisas banais que nos provocam risos tímidos ao caminhar pelas ruas repletas de rostos seríssimos cada um carregando os seus problemas e de toda humanidade.

Acho que está na hora de vermos a morte, não como o fim de tudo, mas como a conclusão de grande projeto que tem seus percalços, mas também tem muitos momentos bons. Se deixarmos de exigir muito da vida e passarmos a sentir prazer em cada segundo que ela nos dá, poderemos, na hora da partida, nos sentirmos como Paulo na sua carta a Timóteo: “combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.”.

É certo que não sairemos vivos dessa vida, então para que carregarmos correntes durante nossa existência. Mágoas, rancores, medos, são como bolas de ferro atadas aos nossos calcanhares. Se insistirmos em carrega-las, a vida ficará mais do que séria, ficará pesada. Assim, na hora de nos despedirmos daqui, nossos parentes irão prantear, não a saudade gostosa ao relembrar nosso sorriso ou nossos gracejos, mas o quanto deixamos de aproveitar da vida que a vida nos deu. Pense nisso, liberte-se e sorria.

Não chorem por nós, jogadores

A responsabilidade de representar o país do futebol pesou nos ombros dos nossos craques

Muitos criticaram os jogadores da seleção brasileira por demonstrarem emoção e chorarem em alguns momentos que antecederam as partidas nesse mundial. Ora, até parece que eles não sabem que homem não chora. Macho que é macho prefere ter um ataque cardíaco a demonstrar suas emoções.

O grande Euclides da Cunha disse ser o sertanejo, acima de tudo, um forte. Pensávamos que todo homem brasileiro descendia de algum sertanejo, mas aqueles rostos molhados nos fizeram cair na real e a buscar uma razão para aquelas lágrimas abundantes. Muitos viram descontrole emocional, a antevisão da perda, a redenção de uma derrota ou a visão da vitória. Penso que foi isso tudo e mais um pouco.

A responsabilidade de representar o país do futebol pesou nos ombros dos nossos craques. Não deve ser nada fácil entrar em campo carregando os sonhos de milhões de brasileiros que estão com os olhos grudados no estádio ou diante das TVs, acompanhando milimétricamente tudo o que o escrete canarinho faz em campo. Pode ser a consagração, mas também pode ser um mergulho ao inferno.

Nossos meninos precisam de colo de mãe. É necessário passar para eles que o país pentacampeão exige o hexa, mas que entende quando o fardo é pesado demais. A imprensa executou magistralmente a tarefa de trazer para o presente o fantasma da Copa de cinquenta e isso, acredito, assustou os meninos. Deixou as suas pernas bambas na hora fatal.

Ah, Brasil, meu mulato inzoneiro, vou cantar teu hino à capela e fazer reverberar por todos os gramados a tua força e a mágica do teu futebol. Os meninos se farão homens e entraram no gramado carregando a responsabilidade de ser brasileiro com muito orgulho, com muito amor. O hexa será nosso, sem choro e sem vela.

A abstinência de bom futebol

Estou procurando desesperadamente algo que me alivie os sintomas da abstinência de bom futebol. Dois dias sem jogos da Copa estão me parecendo agora um eterno suplicio. Hoje me vi assistindo a reprise dos jogos de ontem, mas a minha dependência do futebol bem jogado ficou mais latente.

Isso me fez raciocinar em cima do que teremos quando a Copa acabar. Serei obrigado a ver novamente as partidas sem graça e sem público do Campeonato Brasileiro. Mais terrível ainda será quando chegar a hora do Campeonato Carioca. Acho que não vou resistir. Terei que imigrar para a Europa para sentir de novo essa mesma emoção.

Uma dúvida atroz tomou conta do meu cérebro. Será a constatação de que não estão jogando a altura de seus concorrentes ao título, o verdadeiro motivo do pranto tantas vezes derramado por nossos jogadores? Uma parte de mim diz que não, outra duvida. A verdade é que nossa seleção está praticando um futebol de sobressaltos e as consequências estão sendo fatais para alguns torcedores. Há relatos de casos de óbitos nos estádios e em frente as televisões. Pelo sim e pelo não, amanhã vou ao meu cardiologista. Com essa seleção brasileira, nunca é demais se precaver.

Agora somos nós

Chegamos, aos tranco e barrancos, mas chegamos. Estamos na semifinal da Copa do Mundo 2014. Entretanto, nossa alegria não foi completa. Perdemos a nossa esperança de gols, pelo menos é assim que estamos entendendo este momento. Demorou, mas o Brasil chegou à conclusão que é extremamente dependente do talento de Neymar.

Estou achando tudo isso um tanto estranho. Parece que já temos uma desculpa para o caso de a nossa seleção não conseguir passar pela forte Alemanha, eque irá aliviar a nossa dor e despir a seleção da obrigação imposta por nós, torcedores, de vencer Copa no Brasil a qualquer custo e nos redimir do vexame da Copa de cinquenta.

Caso vençamos, poderemos nos ufanar e respirar aliviado, sem, entretanto, apostar na vitória do Brasil no jogo da final. Ora, todos nós, torcedores assíduos ou não, sabíamos que esse time é dependente do brilho de Neymar, assim como a Argentina é das jogadas de Messi, Portugal de Cristiano Ronaldo e a França de Benzema. Nós poderíamos ser diferentes, mas Felipão escolheu vencer ou perder com as suas convicções. Não está errado. O problema é que o “imponderável” cruzou o caminho da nossa seleção.

Esse acidente ocorrido com Neymar tem levado algumas pessoas a extremos, como se tudo dependesse de uma partida de futebol. A atriz Débora Secco postou uma foto na rede demonstrando toda sua felicidade pelo momento de alegria pela qual está passando. Para quê! Um internauta a criticou por ela estar feliz quando ele estava triste por Neymar estar contundido e não mais participar do mundial. Menos, amigos, menos.

O Brasil perdeu a Copa de cinquenta e o país não acabou. Continuamos crescendo, nos desenvolvendo, avançando na política, na industrialização e na pesquisa. Novos craques surgiram e o Brasil foi campeão em 58, 62, 70, 94 e 2002. É claro que ganhar uma Copa do Mundo é tudo de bom, mas perder não é o fim do mundo.

Eu que, ainda menino, vi o país ganhar a Copa de 70, que fiquei triste com a eliminação da seleção de oitenta e dois e que vibrei com as conquistas de 94 e 2002, espero que essa seleção possa se reinventar sem a presença de Neymar e que dentro de campo surja um talento adormecido que exploda numa arrancada em direção ao gol e estufe as redes adversárias libertando da garganta de todos os brasileiros o grito aprisionado que fará de nós os únicos hexacampeões do planeta bola. Vamos lá Brasil! “Agora, somos nós”.

Vai, Brasil! Verás que um filho teu não foge à luta!

No momento exato em que o craque dominou a bola, a joelhada fatal atingiu suas costelas e o tirou de combate. Mais do que seus companheiros, a nação sentiu as dores e as transmutou em desalento. De repente, aquela certeza fincada no fundo da alma foi arrancada e deu lugar a insegurança. Sem o craque, não sabemos o que será de nós.

O povo brasileiro vive em busca de um Messias. Buscamos a salvação e solução de nossos problemas nas mãos e nos pés de uma pessoa. Foi assim com cavaleiro colorido e com o sapo barbudo. Está sendo assim com o craque. Com os dois primeiros, vimos o país mergulhar na corrupção e no lamaçal. Há quem diga que não se faz política sem sujar as mãos no lodo mais fétido. Com o craque, vimos ruir nosso sonho do hexa em meio a um mar de lágrimas, antevendo a frustração da derrota diante dos alemães.

De repente, aquele povo alegre e confiante saiu de cena e entrou um povo pessimista que faz do culto à derrota seu comer do dia a dia. Estamos desorientados, buscando uma bússola que possa nos tirar desse beco escuro e lúgubre que nos leva às profundezas do Hades.

Na falta do craque, esquecemos nossos outros guerreiros. Estamos a perder a luta antes mesmo de entrar na guerra. Arriamos nossos estandartes, baixamos a cabeça e por isso mesmo, não conseguimos ver que o sol ainda brilha, iluminando o campo de batalha. Nossos adversários, acostumados a tantas lutas, não entendem a razão de tanto pessimismo.

Vai, Brasil! Verás que um filho teu não foge à luta! Ergamos as nossas cabeças e encaremos de frente a oportunidade de fazer um novo futuro. Somos fortes. Somos audazes. Nosso futebol sempre encantou o mundo e não será desta vez que sairemos da Copa com a pecha de derrotados. Seja qual for o resultado, seremos vitoriosos, porque não nos negamos a lutar pelo nosso ideal: o hexa!

Assim, seja qual for a nossa colocação no final desta Copa, estaremos de pé e orgulhosos de ter feito a melhor Copa do Mundo. Essa não é a Copa das Copas, como querem alguns. Essa é a Copa do povo brasileiro e o mundo saberá que nós, além de sermos o país do futebol, somos um país de um povo que sabe se orgulhar de suas conquistas e de sua estória. Prá frente, Brasil!

A derrota das derrotas

Foi embora o sonho do Hexa. Ficaram os elefantes brancos, as filas nos hospitais, os aeroportos inacabados, as pontes que vão do nada para lugar nenhum, as obras sem licitação. O sonho brasileiro desabou no Mineirão como desabou o viaduto construído às pressas e que vitimou duas pessoas e feriu vinte e três. Como disse nossa comandante em mensagem à seleção: é tóis!

Era para ser a Copa das Copas. Esqueceram de combinar com os alemães. Ouvi de muitas pessoas que essa Copa estava comprada e que seriamos campeões, mesmo com um time fraco e dependente de um único craque. Parece que alguém se esqueceu de pagar uma das parcelas. Eu fiquei esperando que a transmissão do jogo fosse interrompida a qualquer momento para que fosse mostrada a imagem de carros fortes chegando ao Mineirão, abarrotados do dinheiro que nos garantiria o Hexa. Graças a Deus isso não aconteceu. A vergonha seria maior.

É muito fácil, agora, apontar erros nas escalações e nos esquemas táticos. Assim como crucificar alguns jogadores, a despeito de suas visíveis entregas dentro de campo. A vitória mascara nossas deficiências e permite nos enganar. A derrota escancara nossas limitações e erros, e nos dá a oportunidade de fazer diferente da próxima vez. Sempre aprendemos mais com os erros do que com os acertos.

A maioria dos jogadores dessa seleção joga no exterior. Isso demonstra que a estrutura do nosso futebol está carcomida. No último campeonato carioca vimos jogo do Flamengo, uma das maiores torcidas do país, com exatos trezentos e setenta e cinco pagantes. O torcedor se nega a pagar caro por jogos com atletas desconhecidos, horários inconsequentes, sem segurança dentro e fora dos estádios e outros itens que desafiam o Estatuto do Torcedor.

Entramos, assim, num circulo vicioso em que os clubes não têm renda porque não tem bons jogadores e não conseguem contratar e manter bons jogadores porque não têm renda. Não há um planejamento estratégico para um dos maiores negócios desse país. Nosso futebol, apesar de transacionar cifras milionárias, é amador.

Temos que utilizar essa derrota para a Alemanha para cobrar de nossos dirigentes a profissionalização de nosso futebol. Dirigente que, comprovadamente, fizer uma gestão fraudulenta, dilapidando o patrimônio do clube, tem que ir para a cadeia.

Sei que falar de punição para políticos e dirigentes de clubes de futebol no Brasil é uma autêntica piada, quando vemos pessoas presas por corrupção sendo tratadas como verdadeiros heróis por parte da população. Estranho ver o número exorbitante de casos em que pessoas são presas por venda ilegal de ingressos. Muitos dirão que isso sempre existiu nos países em que a Copa do Mundo foi realizada, porém as autoridades desses países não conseguiram prender ninguém. Aqui no Brasil, temos uma policia altamente treinada, disposta a colocar na cadeia todos os malfeitores do mundo, dando uma autentica lição ao mundo do que é ser eficiente e eficaz no trato com o crime, seja ele organizado ou não.

Então me vem à mente a seguinte questão: será que nossa polícia é realmente maravilhosa ou os criminosos, amadores e profissionais, entenderam que aqui ninguém vai preso por delitos como venda ilegal de ingressos ou corrupção e que, portanto, poderiam lucrar como nunca vindo para nosso país? Não é para cá que fogem todos os criminosos nos filmes americanos?

Li em jornais e revistas que alguns gabinetes de deputados receberam a oferta de venda de ingressos por parte de um advogado de São Paulo. Não tive notícia que o Presidente da Câmara de Deputados ou mesmo um deputado qualquer que tenha recebido a oferta, tenha encaminhado uma denuncia à Policia Federal. Qualquer cidadão, diante flagrante delito, pode dar ordem de prisão a quem o está cometendo e o encaminhar até uma autoridade policial. Não me consta que nenhum deputado tenha realizado esse ato.

Hoje está nos parecendo que ficou para nós o bagaço da laranja, mas podemos virar esse jogo. Basta cobrarmos de nossos governantes as mudanças que queremos ver realizadas no nosso país.

Nunca é de mais lembrar: jogadores cubanos não serão a solução para ganharmos o Hexa em 2018.

Não choro por ti Argentina

Acabou. Depois de sessenta e quatro partidas chegou ao fim a Copa do Mundo e aqui no Rio de Janeiro, também acabou a farra dos feriados. Se segura parceiro que a transa é sinistra e o negócio é cabuloso. Feriado agora só em Novembro. Vai ser duro de aguentar. Eu já estava acostumado com essa semana de quatro dias e agora terei que me readaptar ao trabalho. Fazer o quê, meu camarada!

A Copa terminou como deveria terminar. O melhor time foi campeão. Graças a Deus! Escapamos de passar quatro anos sendo sacaneados pelos nossos hermanos argentinos. Passaram a Copa toda nos zoando, agora voltam para casa com o rabo entre as pernas. Ah, não choro por ti Argentina, afinal, Pelé tem mais Copas do que você.

Bem, voltamos à nossa vidinha sem graça. Os escândalos políticos voltam a ter destaque nos noticiários, Perceberemos que nossos representantes emendaram a Copa com as eleições e que só voltarão a trabalhar em Novembro, mas aí já vem o Natal e o Ano Novo, vai ter recesso e com isso eles emendarão a farra até o fim do carnaval de 2015.

Teremos eleições e a oportunidade de escolher entre o mais do mesmo ou a renovação, mas iremos nos deparar com candidatos com roupa nova e velhas ideias. No âmbito Estadual, velhos candidatos, velhas ideias e desejos de transformarem o Estado em sustento eterno de suas famílias. Há a possibilidade de vermos novamente a República do Chuvisco em todo seu esplendor ou então o estabelecimento da oligarquia nordestina vermelha ou o proselitismo cristão. Isso sem esquecer que poderemos continuar sendo governados por um vulgo. Sabe de uma coisa? Quero isso não. Tô de boa.

João Ubaldo Ribeiro, um brasileiro de Itaparica

Nos domingos em que eu comprava um exemplar de “O Globo”, corria sempre ao caderno aonde encontrava o artigo de João Ubaldo Ribeiro. Me deliciava com as estórias que ele narrava contando suas estadias na Ilha de Itaparica e seus personagens memoráveis, reais ou imaginários.

As suas aventuras pela orla carioca, um café, um diálogo com o jornaleiro, um chope com os amigos, tudo era contado com extrema perícia pela riquíssima prova do grande escritor. Vencedor de grandes prêmios que honraram suas qualidades como contador de estória, talvez não soubesse que conquistara o maior de todos: o coração dos brasileiros que insistem em ter acesso a uma boa literatura.

Critico contundente de pessoas públicas que desempenharam suas funções não tão republicanamente, João Ubaldo Ribeiro parecia um inveterado esperançoso de dias melhores para o nosso país. Seus textos são obras-primas que poucos terão a oportunidade de igualar, nunca ultrapassar. Seus leitores sentirão a enorme ausência da sua voz rouca a denunciar as coisas que o incomodavam, mas terão como consolo os seus textos que, muitas vezes, soaram como chibatadas no lombo dos oportunistas e mentirosos. Talvez os corruptos pensem que agora terão descanso, uma vez que sua voz se calou, mas enganam-se. As palavras escritas por João Ubaldo ficaram eternizadas nos olhos dos leitores que as repetirão à exaustão por todo o sempre. Viva o povo brasileiro! Viva João Ubaldo Ribeiro, um brasileiro de Itaparica.

Fazer amigos é construir pontes para o infinito

Hoje me ocorreu de tentar identificar o momento em que um simples conhecido passa à condição de amigo. Tem pessoas que aparecem na nossa vida e vão ficando. De repente a gente passa a sentir vontade de fazer algumas coisas juntos: cinema, futebol, música, praia, novela, chope, caminhada, desabafo.

E vem o tempo e as distâncias, mesmo as mais insignificantes, ficam enormes, longes até mesmo de um simples telefonema. Nesses momentos pensamos que aquela amizade, que fora tão forte, não existe mais. Deixamos a mágoa tomar lugar da saudade. Se o amigo não me procura, também não o procuro mais. Deixamos morrer a cumplicidade, o querer bem, a certeza gostosa de se saber querido e a consciência do quanto aquela pessoa nos faz falta, mesmo quando queremos apenas o silencio.

A falta que o outro nos faz se reflete na falta que fazemos a nós mesmos. Quando não nos permitimos cultivar uma amizade, envelhecemos sem guardar lembranças. De nada nos valerá os bons momentos se não pudermos compartilha-los com alguém somente com o interesse de torná-los eternos.

Penso que fazer amigos é construir pontes para o infinito. Nunca saberemos aonde uma boa amizade nos levará.