PRÓLOGO
Eu sempre soube que minha estupidez terminaria daquele jeito, mas me deixei dominar pela escrotidão que de vez em quando ronda os seres humanos, despertando os seus instintos mais desprezíveis. Naquele momento eu só queria fugir e correr para os braços de Marilza, mas as pernas dormentes, presas àquele cativeiro, não me obedeceriam.
Lembrei-me de que era cristão e católico. Pedi a Deus uma saída em troca de meu arrependimento e muita caridade. Não sei por que me lembrei dos meus filhos e me senti um desnaturado por nunca os colocar em primeiro lugar. Talvez porque estivessem com a vida arrumada. Ambos formados, com bons empregos e mulheres lindas. Embora ainda vivêssemos no mesmo apartamento, nossos horários não combinavam. Estavam sempre saindo ou chegando de algum lugar ou partindo para alguma festa. Com tanta gente morando no mesmo apartamento, família de fato éramos apenas eu, Marilza e Zuleide e, mesmo assim, decidi matar minha sogra, talvez buscando mais solidão.